quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
sábado, 5 de dezembro de 2015
História do Cantor Cristão: Hino 002 - Santo! Santo! Santo!
ESTE HINO tem sido
chamado: “o
melhor hino já escrito, considerando sua pureza de linguagem, sua devoção, sua
espiritualidade, e a dificuldade de tratar poeticamente um tema abstrato como
esse.” 1
É cantado, domingo
após domingo ao redor do mundo, quer em inglês, português, russo, chinês, e em
centenas de outras línguas. Paráfrase de Apocalipse 4.8-11, o hino realça o
canto contínuo de adoração dos quatro seres viventes:
“Santo,
Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, e que é, e que
há de vir.”
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Reginald Heber (1783-1826) |
Reginald Heber
(1783-1826) era filho de um abastado fazendeiro inglês no condado de Cheshire.
Era uma pessoa por demais generosa, dando tudo o que ele tinha nos bolsos às
pessoas necessitadas que encontrava. Quando ele viajava, sua mãe costumava
costurar o seu dinheiro da passagem em sua roupa, para que ele não ficasse sem
possibilidade de voltar para casa. Como jovem, Heber recebeu boa educação e
durante os estudos tinha certa fama como poeta. Ordenado ao ministério
anglicano, recusou boas posições na capital, voltando à sua região natal para
servir numa pequena igreja.
Embora os anglicanos
cantassem mais os salmos, Heber ficou muito impressionado pelos hinos de John
Newton e William Cowper (ver HCC 226). Interessou-se, especialmente, por hinos
de boa qualidade que fossem apropriados para o ano eclesiástico, seguindo os
temas bíblicos para cada domingo. Começou a publicar seus hinos em 1811, mas
não conseguiu permissão para publicar a sua coleção, Hinos escritos e
adotados ao serviço semanal do ano eclesiástico, feita com a colaboração de
outros bons hinistas.
Depois de 16 anos no
pastorado, Heber aceitou o bispado de Calcutá 2, na Índia, dizendo que um
pastor devia ser como um“soldado
ou marinheiro, pronto a ir para qualquer serviço, tão remoto ou indesejável que
fosse.” 3
Este campo enorme
incluía não apenas a Índia, mas o então Ceilão (agora Sri Lanka), e Austrália.
Heber se dedicou a este ministério com entusiasmo mas, depois de três anos de
trabalho árduo, maltratado pelo clima severo, faleceu repentinamente. Ele tinha
ido numa viagem de aproximadamente 1.800 quilômetros
para a cidade de Trichinópoli, no extremo sul da Índia, para confirmar uma
classe de 42 convertidos. O seu servo, achando que ele se demorava muito no
banho, foi à sua procura, encontrando-o morto. Seu ministério, contudo,
continuou pois a coleção dos seus hinos foi encontrada por sua mãe (depois da
morte de Heber), na mala dele que a ela foi enviada. E foi a pedido dela que a
Igreja Anglicana deu permissão para publicá-la em 1827, um ano após a sua
morte.
A obra de Reginald
Heber ajudou a dissipar os preconceitos dos anglicanos contra os hinos e marcou
uma nova era na hinologia inglesa. A importância dos seus hinos é resultado, em
parte, da sua expressão literária e qualidade lírica. Mais importante ainda é o
fato que as igrejas receberam dele hinos baseados no ensino bíblico de cada
domingo, de acordo com o Evangelho ou a Epístola. Começaram a cantar o Novo
Testamento!
“Heber
figura como um dos mais importantes hinistas ingleses do séc.19. Ao todo,
escreveu 57 hinos. Todos ainda estão em uso, um tributo raro ao gênio deste
escritor consagrado”.4
O tradutor do hino, João
Gomes da Rocha, nasceu no Rio de Janeiro em 14 de março, de 1861, filho de
Antônio Gomes da Rocha e D. Maria do Carmo, portugueses. Era filho adotivo do
Dr. Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, missionários pioneiros no
Brasil. Estudou medicina em
Londres. Foi médico
missionário na Inglaterra, Madagascar e África. O Dr. Rocha aproveitou-se de
uma viagem à América do Sul para visitar a família no Brasil e tornou-se membro
da Igreja Evangélica Fluminense, fundada pelo casal Kalley.
O Dr. Rocha, que
estudara música na Escócia, cooperou ativamente com D. Sarah após o falecimento
do seu esposo, no preparo de algumas edições de Salmos e Hinos, o
primeiro hinário evangélico brasileiro. Depois da morte de D. Sarah, continuou
a obra. Preparou várias edições do hinário até 1919, quando dotou de valiosos
índices a quarta edição com música. Ele também produziu numerosos hinos, entre
traduções, adaptações e trabalhos originais, 62 dos quais se encontram em Salmos
e Hinos de 1975 e 15 no Cantor cristão de 1971. No Hinário para o
culto cristão encontram-se 11 das suas letras, metrificações e traduções. O
Dr. Rocha faleceu em 1947, na Escócia, onde morava, mas seu coração nunca saiu
do Brasil, sua terra natal, e do ministério da hinódia aqui.
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John Bacchus Dykes (1823-1876) |
O Dr. John Bacchus
Dykes (1823-1876), nascido em Hull, Inglaterra, foi um compositor prolífico
e espontâneo de melodias para hinos, considerados os melhores exemplos da
época. Estas melodias conseguiram imortalizar os hinos para os quais foram
compostas. Constavam em grande número em todos os hinários do povo de língua
inglesa e influenciaram a música dos hinos ao redor do mundo. Outras duas das
melhores dessas melodias estão no Hinário para o culto cristão, ST.
AGNES (n.316) e VOX DELECTI (n.413).
Dykes mostrou o seu
talento desde menino, estudando, desde cedo, violino e piano. Aos 10 anos
tornou-se organista na igreja do seu avô. Formou-se em Música em Cambridge em
1847 e foi ordenado ao ministério no ano seguinte. Depois de poucos anos no pastorado, foi
escolhido como diretor de música da famosa Catedral de Durham, Inglaterra, onde
serviu com muita distinção até a sua morte em 1876. Foi em Durham que Dykes
recebeu o grau de Doutor em música (honoris causa).
Sua filha fala de
Dykes: A sua
natureza era viva, sorridente e cheia de alegria e ele tinha a capacidade de
fazer amigos, inspirando amizades profundas (...). A sua qualidade principal,
entretanto, era sua fé profunda e sincera. Parecia ser a fonte escondida de
toda a sua vida exterior.4
Certamente nestas
palavras pode ser achado o segredo da capacidade do Dr. John Dykes de
imortalizar bons hinos com sua música.
NICAEA,
considerada a melhor melodia de Dykes, foi composta em 1861 para este hino
trinitário de Heber. Foi uma das sete com que ele contribuiu para o hinário de
muita projeção, Hymns ancient and modern (Hinos antigos e modernos).
Depois que este hino recebeu a melodia de Dykes, tornou-se um dos mais amados
no mundo inteiro. O compositor escolheu este nome porque foi no Concílio de
Nicéia, em 325 a.D.,
na Ásia Menor, que se estabeleceu a doutrina trinitária, rejeitando-se a
heresia do arianismo.
1. TENNYSON. Alfred. Em: MCCUTCHAN, Robert Guy. Our
Hymnody, 2ª ed. Nashville:
Abingdon Press, 1937, p.17. [Lord Tennyson foi poeta laureado da
Inglaterra].
2. Bispo
é um dos postos da Igreja Anglicana (Ver anotação 2 HCC 60).
3. Ibid.
4. OSBECK, Kenneth W. 101 hymn stories. Grand Rapids, MI:
Kregel Publications, 1982. p.79.
5. WELSH, R.E. e
EDWARDS, F.G. Romance of psalter and hymnal. New York: James Pott & Co., 1889. p.
307.
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